“Se cada coisa tem o seu lugar, porque a publicidade está em todos os lugares?” Me lembro dessa pergunta vista por mim há alguns dias na Revista Eletrônica Off-line, justamente agora, quando termino de ler a última linha do texto de Ignacio Ramonet, "O poder midiático", que integra o livro "Por uma outra Comunicação", organizado por Dênis De Moraes.
Proponho-me então a esta resenha crítica, que tentará no final das contas, dizer: a publicidade está em todos os lugares porque ela tem a necessidade de criar necessidades de consumo no maior número de pessoas possível. E a informação, por sua vez, também está em todos os lugares porque está cada vez mais deixando de ser um direito, para se tornar um produto de consumo necessário e gratuito. Sim, gratuito, pois quem banca a informação é a propaganda, o espaço publicitário. E a nós, meros mortais, cabe o papel de comprarmos, consumirmos o que o espaço publicitário vende enquanto nos “dá” informação. Esse custo pode ser muito caro: nossa cumplicidade em crimes como o trabalho escravo ou a danificação ambiental,... nossa saúde,... a nossa vontade própria,... a nossa intelectualidade,... nossa sensibilidade,... nossa consciência,...
Proponho-me então a esta resenha crítica, que tentará no final das contas, dizer: a publicidade está em todos os lugares porque ela tem a necessidade de criar necessidades de consumo no maior número de pessoas possível. E a informação, por sua vez, também está em todos os lugares porque está cada vez mais deixando de ser um direito, para se tornar um produto de consumo necessário e gratuito. Sim, gratuito, pois quem banca a informação é a propaganda, o espaço publicitário. E a nós, meros mortais, cabe o papel de comprarmos, consumirmos o que o espaço publicitário vende enquanto nos “dá” informação. Esse custo pode ser muito caro: nossa cumplicidade em crimes como o trabalho escravo ou a danificação ambiental,... nossa saúde,... a nossa vontade própria,... a nossa intelectualidade,... nossa sensibilidade,... nossa consciência,...
Mas que seduz essa história de informação gratuita disfarçada de publicidade (ou vice-versa?), seduz. “Quem lê sabe mais”, “Não fique pra traz”, “Informação é poder”. Aliás, para Ramonet, o poder midiático subiu no ranking, pulando do quarto para o segundo lugar, perdendo apenas para o poder econômico e financeiro. Será que daqui a pouco estarão empatados, ou saberão negociar para se tornarem um, sem prejuízo pra ninguém?
Então, o que está em jogo é: Eu não preciso consumir todo tipo de informação, ainda mais nessa velocidade absurda, que tentam me empurrar goela abaixo. Como diz Ramonet, "passamos de um mundo do jornalismo para o mundo do imediatismo (...), a informação é feita cada vez mais de impressões, de sensações". Hoje em dia parece que é tudo descartávael, eu me informo sobre coisas desconexas, na mesma velocidade em que como fast-food, sem sentir o gosto, deixando derreter na boca. Eu preciso ao menos filtrar o que me é realmente importante, o que eu quero. Eu preciso de tempo para ingerir de forma saudável, ou seja, analisar as informações para chegar a conclusões que vão além de um senso comum. Eu e todos nós. Isso é de vital importância para nosso organismo social. Comer depressa faz mal.
Mas comecemos do início: Ramonet aponta a revolução digital como sendo a principal causa para a integração de quatro mundos, formando um único mundo. O mundo da mídia, o da comunicação, o da cultura de massas, e o da publicidade se mesclaram, se tornaram um só. Não existem mais de maneira autônoma, independente, cada qual com suas características que até então sempre foram tão próprias e distintas. Hoje é impossível pensar em um dispositivo midiático que use apenas um tipo de linguagem (algo que seja puramente textual, ou visual, ou sonoro). E é interessante notarmos aqui que os meios de mídia sempre foram caracterizados, entre outras coisas, pelo tipo de estímulo sensorial que eles são capazes de produzir. Por exemplo, quando falamos de TV, falamos de um estímulo audiovisual. De rádio, sonoro. O impresso requer a habilidade da leitura e toda subjetividade que essa demanda. Logo, quando falamos de um hibridismo midiático possibilitado pela tecnologia digital (não somente computador e internet, mas as chamadas novas mídias - que já não são tão novas assim, aliás, o texto do Ramonet é de 2005!) é como se estivéssemos afirmando que nossa maneira de sentir, de provar os conteúdos que nos chegam através dos meios de comunicação, também se tornou híbrida. Uma pergunta que sinceramente não sei responder: A revolução digital, sendo tão importante como toda revolução, vem sendo discutida de maneira crítica nas escolas do ensino médio do Brasil? Ou essa discussão fica restrita aos cursos de graduação, enquanto afeta direta e diariamente a vida de todas as pessoas em sociedade?
Óbvio (aliás, um termo ao qual Ramonet vai recorrer com freqüência durante o texto, como se querendo provocar nossa lógica, despertar nossa atenção) que, uma vez enfraquecidas as fronteiras, e unificadas as culturas (da comunicação, da publicidade, da mídia e das massas), “cria-se” a necessidade de ter alguém que saiba operar esses “quatro em um”. É o novo perfil do profissional que as empresas buscam: um expert em tudo, alguém que entenda e saiba operar com precisão o novo mundo comunicacional. E para gerenciar, administrar, empregar esses multiprofissionais, as empresas também não podem ser só empresas. São agora grupos de comunicação que saibam realizar as megafusões dentro do universo comunicacional, passando a ser megaempresas. O exemplo usado por Ramonet é o Grupo Murdoch, que já nem bem se sabe sua nacionalidade, quanto mais especialidade: Se é edição musical, edição cinematográfica, agência de publicidade, entretenimento, ou esportes. O mercado da comunicação hoje engloba tudo. Não pode deixar espaço para nenhum concorrente. Vislumbra em tudo, em todos e em todos os lugares, potenciais de cifras e de propagação de ideologia. Transforma tudo em espetáculo. Faz com que até mesmo pequenas empresas de jornal regional impresso que estão começando agora, por exemplo, tenham que imitar as bem-sucedidas multinacionais da comunicação, caso contrário serão atropeladas no tempo, pelas próprias histórias contadas em suas páginas.
Um dos resultados disso tudo, é que, aquele profissional que tem que ficar hiperconectado o dia inteiro como um louco, tendo que ser assessor de imprensa (lembrei-me do termo pró-ativo!), publicitário, repórter, produtor, web-designer, fotógrafo, cinegrafista, colunista, roteirista, editor, revisor, ombudsman, locutor, âncora, entender de informática e servir cafezinho, não serve pra nada se não incorporar a ideologia da empresa pra qual trabalha, se não souber vender sua imagem, e ser cada vez menos um agente social, e cada vez mais um mercador da comunicação, um “agente de vendas”.
É isso que faz, por exemplo, um grande grupo de comunicação fechar as portas para uma pessoa que tenta uma vaga de estágio, se esta disser na entrevista que a comunicação comunitária é a disciplina que mais gosta na faculdade. Vão simplesmente dizer: “achamos que seu perfil não combina”. Isso é muito louco, porque acontece logo num momento onde as pessoas têm muito mais acesso à educação, ao conhecimento, à faculdade, onde existe uma procura muito grande pelo saber, pela prática do que é ensinado. Mas o mercado de trabalho nega até mesmo a técnica ensinada na escola acadêmica, em prol de uma ideologia, e se fecha para ceder oportunidades. Ideologia que é uma só: gerar lucro.
E já que falamos de comunicação comunitária, Ramonet vai dizer que, a luta dessa, ou mesmo a de um jornalismo alternativo, contra o grande poder hegemônico comercial da mídia, é extremamente desigual. Por quê? Porque é muito trabalhoso explicar coisas que fazem oposição ao senso comum já tão enraizado. Vai ser sempre mais confortável consentir com esse senso comum e ajudar a disseminá-lo. Desconstruir conceitos e apontar caminhos demanda muitos argumentos, conquista da credibilidade, paciência, inteligência, tempo,... Sempre será mais fácil nadar a favor da maré, repetir e copiar (como o poder midiático faz isso!) discursos que não resistem a uma reflexão mais profunda.
Contudo, se lutarmos com as mesmas armas, aí sim será uma guerra injusta. Não podemos nos apropriar de tamanha superficialidade, instantaneidade e rapidez, e dramatização barata, imitando o discurso de tom infantil com que a o poder midiático rouba mentes e corações por aí. Ramonet termina, então, pedindo a ecologia da informação, pois essa já está pra lá de contaminada, assim como o ar que respiramos (particularmente acho que nós, seres-humanos, é que estamos contaminados). Isso em prol de uma sociedade futura e presente, sobretudo. Em prol da verdade, com técnica, sem estrelismos, e despretensiosa. E ainda nos lembra de exemplos de que é possível. Vou tentar fazer, Ramonet.
Então, o que está em jogo é: Eu não preciso consumir todo tipo de informação, ainda mais nessa velocidade absurda, que tentam me empurrar goela abaixo. Como diz Ramonet, "passamos de um mundo do jornalismo para o mundo do imediatismo (...), a informação é feita cada vez mais de impressões, de sensações". Hoje em dia parece que é tudo descartávael, eu me informo sobre coisas desconexas, na mesma velocidade em que como fast-food, sem sentir o gosto, deixando derreter na boca. Eu preciso ao menos filtrar o que me é realmente importante, o que eu quero. Eu preciso de tempo para ingerir de forma saudável, ou seja, analisar as informações para chegar a conclusões que vão além de um senso comum. Eu e todos nós. Isso é de vital importância para nosso organismo social. Comer depressa faz mal.
Mas comecemos do início: Ramonet aponta a revolução digital como sendo a principal causa para a integração de quatro mundos, formando um único mundo. O mundo da mídia, o da comunicação, o da cultura de massas, e o da publicidade se mesclaram, se tornaram um só. Não existem mais de maneira autônoma, independente, cada qual com suas características que até então sempre foram tão próprias e distintas. Hoje é impossível pensar em um dispositivo midiático que use apenas um tipo de linguagem (algo que seja puramente textual, ou visual, ou sonoro). E é interessante notarmos aqui que os meios de mídia sempre foram caracterizados, entre outras coisas, pelo tipo de estímulo sensorial que eles são capazes de produzir. Por exemplo, quando falamos de TV, falamos de um estímulo audiovisual. De rádio, sonoro. O impresso requer a habilidade da leitura e toda subjetividade que essa demanda. Logo, quando falamos de um hibridismo midiático possibilitado pela tecnologia digital (não somente computador e internet, mas as chamadas novas mídias - que já não são tão novas assim, aliás, o texto do Ramonet é de 2005!) é como se estivéssemos afirmando que nossa maneira de sentir, de provar os conteúdos que nos chegam através dos meios de comunicação, também se tornou híbrida. Uma pergunta que sinceramente não sei responder: A revolução digital, sendo tão importante como toda revolução, vem sendo discutida de maneira crítica nas escolas do ensino médio do Brasil? Ou essa discussão fica restrita aos cursos de graduação, enquanto afeta direta e diariamente a vida de todas as pessoas em sociedade?
Óbvio (aliás, um termo ao qual Ramonet vai recorrer com freqüência durante o texto, como se querendo provocar nossa lógica, despertar nossa atenção) que, uma vez enfraquecidas as fronteiras, e unificadas as culturas (da comunicação, da publicidade, da mídia e das massas), “cria-se” a necessidade de ter alguém que saiba operar esses “quatro em um”. É o novo perfil do profissional que as empresas buscam: um expert em tudo, alguém que entenda e saiba operar com precisão o novo mundo comunicacional. E para gerenciar, administrar, empregar esses multiprofissionais, as empresas também não podem ser só empresas. São agora grupos de comunicação que saibam realizar as megafusões dentro do universo comunicacional, passando a ser megaempresas. O exemplo usado por Ramonet é o Grupo Murdoch, que já nem bem se sabe sua nacionalidade, quanto mais especialidade: Se é edição musical, edição cinematográfica, agência de publicidade, entretenimento, ou esportes. O mercado da comunicação hoje engloba tudo. Não pode deixar espaço para nenhum concorrente. Vislumbra em tudo, em todos e em todos os lugares, potenciais de cifras e de propagação de ideologia. Transforma tudo em espetáculo. Faz com que até mesmo pequenas empresas de jornal regional impresso que estão começando agora, por exemplo, tenham que imitar as bem-sucedidas multinacionais da comunicação, caso contrário serão atropeladas no tempo, pelas próprias histórias contadas em suas páginas.
Um dos resultados disso tudo, é que, aquele profissional que tem que ficar hiperconectado o dia inteiro como um louco, tendo que ser assessor de imprensa (lembrei-me do termo pró-ativo!), publicitário, repórter, produtor, web-designer, fotógrafo, cinegrafista, colunista, roteirista, editor, revisor, ombudsman, locutor, âncora, entender de informática e servir cafezinho, não serve pra nada se não incorporar a ideologia da empresa pra qual trabalha, se não souber vender sua imagem, e ser cada vez menos um agente social, e cada vez mais um mercador da comunicação, um “agente de vendas”.
É isso que faz, por exemplo, um grande grupo de comunicação fechar as portas para uma pessoa que tenta uma vaga de estágio, se esta disser na entrevista que a comunicação comunitária é a disciplina que mais gosta na faculdade. Vão simplesmente dizer: “achamos que seu perfil não combina”. Isso é muito louco, porque acontece logo num momento onde as pessoas têm muito mais acesso à educação, ao conhecimento, à faculdade, onde existe uma procura muito grande pelo saber, pela prática do que é ensinado. Mas o mercado de trabalho nega até mesmo a técnica ensinada na escola acadêmica, em prol de uma ideologia, e se fecha para ceder oportunidades. Ideologia que é uma só: gerar lucro.
E já que falamos de comunicação comunitária, Ramonet vai dizer que, a luta dessa, ou mesmo a de um jornalismo alternativo, contra o grande poder hegemônico comercial da mídia, é extremamente desigual. Por quê? Porque é muito trabalhoso explicar coisas que fazem oposição ao senso comum já tão enraizado. Vai ser sempre mais confortável consentir com esse senso comum e ajudar a disseminá-lo. Desconstruir conceitos e apontar caminhos demanda muitos argumentos, conquista da credibilidade, paciência, inteligência, tempo,... Sempre será mais fácil nadar a favor da maré, repetir e copiar (como o poder midiático faz isso!) discursos que não resistem a uma reflexão mais profunda.
Contudo, se lutarmos com as mesmas armas, aí sim será uma guerra injusta. Não podemos nos apropriar de tamanha superficialidade, instantaneidade e rapidez, e dramatização barata, imitando o discurso de tom infantil com que a o poder midiático rouba mentes e corações por aí. Ramonet termina, então, pedindo a ecologia da informação, pois essa já está pra lá de contaminada, assim como o ar que respiramos (particularmente acho que nós, seres-humanos, é que estamos contaminados). Isso em prol de uma sociedade futura e presente, sobretudo. Em prol da verdade, com técnica, sem estrelismos, e despretensiosa. E ainda nos lembra de exemplos de que é possível. Vou tentar fazer, Ramonet.
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